Zona de conforto

Quem incomoda e quem que incomodado está?

Em uma aula experimental de teatro musical que participei, essa foi uma das frases que cantamos para o exercício que faríamos naquele dia. Uma frase simples, de uma canção simples, porém com uma mensagem que, para mim, foi bastante complexa. Isso porque durante muitos anos a timidez e a insegurança foram minhas companheiras e, também, um grande desafio que eu precisava enfrentar todos os dias – e ainda enfrento. Entendendo essa minha dificuldade, desafiei-me a seguir o conselho de muitas pessoas que me diziam “faz teatro, isso pode ajudar”. Pois bem, procurei uma oportunidade e encontrei uma aula experimental para ver se era ou não a minha praia.

Sempre fui envolvida de certa forma com a arte: meu irmão mais velho toca guitarra desde que me entendo por gente e o meu irmão do meio é desenhista. Aprendi a tocar violino e escrevo algumas coisas desde nova também. Todavia, escrever sempre foi para mim um refúgio e meu envolvimento com a arte sempre foi algo mais discreto, sem tanta exposição. Dessa forma, participar de uma aula de teatro musical e me expor de uma maneira que nunca tinha feito antes, foi realmente desafiador. Eu me senti incomodada com tamanha exposição e tudo aquilo me fez suar e querer sair correndo. No entanto, aquele incômodo me veio como um mal muito necessário. Foi naquele momento que eu percebi o quanto eu estava na minha zona de conforto e o quanto eu não queria sair dali, o quanto tudo aquilo era doloroso. Entretanto, foi também naquele momento que eu percebi que sair da minha zona de conforto era extremamente necessário e que eu eu precisava me mover urgentemente para sair daquele lugar.

A minha zona de conforto estava me matando e eu demorei muito para notar isso. Não me matando literalmente, óbvio. Mas estava matando todas as oportunidades que eu tinha de explorar mais, de ir além, de experimentar novos caminhos, de trazer meus talentos à tona ou experimentar novos talentos que eu sequer conhecia.

Toda essa experiência me fez ver que nem sempre o que incomoda deve ser abandonado. Nem sempre o que me cutuca e me deixa desconfortável é sinônimo de um mal a ser rejeitado. Às vezes, o incomodo vem como que um recado para viver coisas novas e sair do lugar comum. Em alguns momentos, o incômodo é sinal de que você precisa deixar algo, sim. Mas muitas vezes o incômodo vem como um sinal para agarrar algo novo e crescer fora da zona de conforto que é, de fato, confortável mas, ao mesmo tempo, extremamente perigosa.

Sendo assim, quando se sentir incomodado por algo, não evite o que está te incomodando, ao invés disso pergunte-se: quem ou o que está incomodando, quem está se sentindo incomodado e, além disso, por quê? Quando essas perguntas forem respondidas, é possível que venha à luz o que tem sido sua zona de conforto e, então, você terá a oportunidade de sair dela. Quando isso acontecer, um conselho: saia urgentemente.

 

Foto: Gilton Lopes Nascimento

Sobre o Autor

Nívea Lopes
Nívea Lopes

Nívea Lopes, professora de Língua Portuguesa e artista.

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