Uma das coisas que eu tenho comprovado nesse período de isolamento social é a minha falha em me autoanalisar. Definitivamente, não consigo enxergar muito bem o que há dentro de mim. E isso não quer dizer que invalido o exercício de se examinar e tentar entender a própria personalidade. Quer dizer, na verdade, que eu constatei que não consigo fazer isso sozinha de maneira plena.
Percebi que, querendo ou não, caio sempre em alguns extremos: ou me deprecio completamente, deixando de notar que o Criador colocou em mim boas coisas; ou me superestimo, ignorando todas as minhas constantes falhas que ainda precisam ser tratadas. De todo modo, estando de um lado ou de outro, careço de um olhar diferente do meu que me aponte para aquilo que sou incapaz de distinguir.
Tudo isso me atravessou quando vi que o tempo que passei sozinha, isto é, isolada por conta da quarentena, trouxe alguns males, uma vez que a ausência de pessoas ao meu redor afetou a maneira como me vejo e me comporto. Isso porque a presença de colegas, familiares ou mesmo desconhecidos sempre me trouxe à tona o que estava fora do lugar em meu ser. Ou seja, direta ou indiretamente, os sujeitos ao meu redor constantemente me corrigiram.
Assim, no período em que eu me vi com a pouca participação de diferentes pessoas no meu dia a dia, deparei-me com uma versão ruim de mim. Com isso, li um verso alguns dias atrás que me fez perceber isso de maneira ainda mais evidente:
Vê se há em mim algum caminho mau
e guia-me pelo caminho eterno.
Salmo 139:24 — NAA
Esse trecho do salmo chegou até mim como um alerta e como uma ponta de esperança. Por um lado, veio como um alerta, porque fui avisada, mais uma vez, de que estou sujeita a ter dentro de mim coisas terríveis que muitas vezes não noto. Por outro lado, trouxe-me esperança, porque mesmo sujeita a caminhar por estradas esburacadas, tenho a oportunidade de ser guiada de volta a um caminho bom.
Mais do que isso, esse salmo me relembrou de algo já dito anteriormente: eu preciso de outros olhares e de conselhos que estão para além de mim. Logo, esses têm sido dias em que eu noto a minha fragilidade, em que noto, também, a minha necessidade de pessoas que me ajudem a vislumbrar o meu próprio coração, pessoas que digam: “Não, Nívea, não é por aí!”. Têm sido dias em que eu percebo que preciso do Eterno Deus que me conhece profundamente e pode me dizer o que há de mau dentro de mim.
Finalmente, o que guardo de tudo isso é que o tempo para si mesmo é bom, mas tem os seus riscos. Dessa forma, ao mesmo tempo que eu preciso dos momentos de solitude e reflexão, vira e mexe sou relembrada de que o coletivo é necessário, ou seja, o olhar do outro sobre mim é extremamente importante, pois a minha autoanálise, por si só, pode falhar a qualquer momento. Portanto, ainda nesse distanciamento social, necessito ouvir aqueles que me conhecem. Sobretudo, necessito ouvir o Criador que me formou e sabe o que há, de fato, dentro de mim, posto que eu, por vezes, ignoro determinadas coisas presentes em meu coração.
Assim, minhas palavras nesses dias têm sido: vejam em mim se há algo de ruim — provavelmente, tem!
Foto: Gilton Lopes Nascimento.
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