Um fio de cabelo branco
Há um mês, completei vinte e cinco anos. Há uma semana, mais ou menos, encontrei o meu terceiro fio de cabelo branco. Dois eventos bastante comuns: um aniversário e o natural embranquecimento dos fios. Os dois eventos ligados a um fato: o envelhecimento. A vida passando por mim; a vida indo-se. E nisso — eu sei — não há nada de novo.
Nunca tive comigo o medo de envelhecer. Na verdade, sempre reservei a esperança naquilo que viria com o acúmulo dos anos. Eu guardei e ainda guardo um anseio pelo envelhecimento — envelhecimento do corpo e das ideias. Contudo, há um medo que carrego e que deu as caras: o medo de ver a vida passar sem ter passado por ela verdadeiramente.
São várias as verdades que envolvem o acontecimento do qual estou falando. É verdade que envelhecemos, é verdade que o tempo passa, é verdade que as coisas mudam e é verdade que tudo isso pode acontecer sem, de fato, percebermos. A vida é uma verdade. Deixar de vivê-la com consciência também é. E foi nisto que o meu medo se manifestou.
Não diria que passei por aquelas crises que acontecem em idades específicas — já ouvi falar da crise dos dezoito, dos vinte e poucos, dos trinta —, mas diria que fui convidada, de algum modo, a pensar a minha passagem por esses anos todos que decorrem. Fui convidada a pensar nos anos que se seguem, independentemente do que faço com eles.
Isso tudo porque vi como é possível viver desligada de uma realidade em que muita poesia acontece. Vi como é possível viver fechada em algo ínfimo enquanto a vida acontece enormemente, enquanto a vida acontece sendo gigante. E aqui a questão que coloco não está relacionada a querer viver coisas extraordinárias ou a querer acompanhar tudo o que ocorre — além de impossível, essa é uma lógica cruel.
Depois de ter refletido sobre a minha nova idade e meus novos fios de cabelo, vi que o meu coração sofre com o medo de viver pequeno, de viver covardemente. E a pequenez de que falo aqui é aquela que nos faz — e já me fez — viver evitando todo tipo de perigo e, consequentemente, a grandeza que a vida oferece. Como diz Riobaldo, um personagem da literatura brasileira, viver é muito perigoso. Evitar isso — acredito eu — é viver pequeno.
Enquanto digo tudo isso, continuo aqui com os meus vinte e cinco. Já ouvi dizer que, daqui em diante, tudo é ainda mais rápido. Como já comentei, isso não me amedronta. Porém, tenho guardado comigo uma oração: oro por coragem para viver a grandeza da vida durante esse envelhecer, oro para não me acostumar a viver no pequeno. A passagem do tempo exige muita coragem. “Senhor, que eu a tenha”.
Foto: Gilton Lopes Nascimento
Texto: Nívea Lopes
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