Superficial

Seja bem vind@ a esta casa! Sinta-se à vontade. Mas… não se aproxime tanto. Não repare na bagunça. Pode ficar pela sala. Hoje ela está arrumada. Não precisa conhecer todos os cômodos, não. Nem abrir todos os armários da cozinha. Nem o guarda-roupa. Deixe esses detalhes de lado. Pode ficar pela sala. Deixe a visita ao quarto para outro dia. Lá pode não te agradar muito. Não tenho tido tempo para arrumá-lo. Pode ficar pela sala. Fique só com o cartão de visita, por enquanto. Talvez assim você queira voltar outros dias. Deixe eu me esconder atrás desse disfarce, escondendo toda a bagunça daqui debaixo do tapete. Não desejo deixar-te com uma primeira impressão ruim. Mas sinta-se à vontade! Pode conhecer a casa… a parte que eu arrumei, é claro! Deixe-me conviver com esse medo, ou insegurança, ou covardia. Mas fique pela sala, pelo menos só hoje, ou durante uma semana, ou dois meses… enfim… fique por aí.

Não me preparei tão bem para o profundo. Me acostumei com essa parte rasa. Me acostumei com a máscara. Me acostumei com o esconder a parte ruim. Me acostumei em mostrar só parte da casa. A parte boa. A parte que eu invento. O verdadeiro? Deixa para outro dia, para outra visita. Enquanto isso, fiquemos com o breve. Com a sala de visitas. Com o cartão-postal. Com o rosto bonito, maquiado. E, assim, continue eu a conviver com esse peso, até que, enfim, eu aceite a ideia de deixa-lo entrar e colocar essa bagunça no seu devido lugar.

Por agora, fique pela sala.

Foto: Gilton Lopes Nascimento.

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Nívea Lopes
Nívea Lopes

Nívea Lopes, professora de Língua Portuguesa e artista.

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