Diariamente somos visitados por uma voz que diz: “Poderia ter ficado melhor!”. Voz perturbadora que vem de todos os cantos, inclusive de nós mesmos. Voz de uma falsa perfeição que cobra. Voz que fala alto. Voz que nos impede de ouvir os outros tons mais harmoniosos, mais afinados, mais compreensíveis.

            Hoje, não diferente de outros dias, essa voz gritou para mim. Parei e dediquei muito tempo ouvindo-a e até mesmo concordando com o que ela dizia. Até que decidi calá-la por alguns instantes. Nesses instantes em que a silenciei, percebi quão ingrata era. O resultado do trabalho de minhas mãos não havia sido perfeito, nisso tive de concordar. No entanto, ali estava ele. Ali estava ele sendo aproveitado por mim e por pessoas ao meu redor. Ali estava ele me ensinando. Ali estava ele me dando a oportunidade de tê-lo como referência para os próximos. Ali estava ele. Feito! E essa voz que outrora gritava as imperfeições do que estava ali na minha frente teve de se calar e dar lugar para que a gratidão cantasse, dançasse e festejasse por mais um passo dado.

            Percebi, entre tantas outras coisas, que essa voz não é autônoma. Eu a mantenho. Eu a alimento. Eu lhe dou vida. Permito-me, porém, diante disso, olhar de novo. Contemplar novamente o que parecia tão desagradável para enxergar que há algo belo, pois é no ver novamente que percebo detalhes que exigem uma apreciação paciente.

            Desacelero, portanto, o passo. Desacelero a vontade por resultados imediatos. Passo a caminhar um pouco mais devagar para entender que a perfeição se constrói nessa caminhada que é lenta. Caminhada que me ensina através do nascer do sol que é aos poucos que a plena caridade do dia se instala. Sendo assim, vou caminhando até que, por fim, a Perfeição seja em mim formada. Sem pressa. Sem pesos.

            Sinta-se convidad@.

Sobre o Autor

Nívea Lopes
Nívea Lopes

Nívea Lopes, professora de Língua Portuguesa e artista.

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