Os sons de domingo

Domingo à noite geralmente era um dos meus momentos favoritos da semana. Era o momento de estar entre amigos e família, reunidos e fazendo coisas que a rotina de segunda à sexta não permitia. Bem, minha linguagem de amor é “tempo de qualidade”, logo, o domingo era o meu momento, o momento de eu extrapolar meu amor aos meus amigos passando horas com cada um.

No entanto, as coisas mudaram bastante e os domingos se tornaram um tanto solitários e silenciosos. A noite já não é mais tão barulhenta quanto antes.

Porém, um domingo desses eu estava em frente à televisão com meu pai, em silêncio, assistindo à programação online da igreja — passamos horas assim, no mesmo cômodo e em silêncio. Mas, para a minha surpresa, quando a programação acabou, meu pai disse:

— Filha, achei a live do culto aqui no celular. Se inscreve no canal para mim e aperta o sininho.

De longe, foi a coisa mais inusitada da minha quarentena. Em que momento eu imaginaria estar conversando com meu pai e ensinando ele a se inscrever no canal da igreja e ainda atendendo a sua exigência de ativar as notificações para ele saber quando o canal lançasse algo novo?

Agora, toda vez que ele abre o celular e vê algo da igreja, ele corre para me mostrar. Os domingos estão voltando a ser barulhentos, mesmo ao som de apenas duas vozes — a minha e a de meu pai. Entretanto, esse som é aquele que eu não ouvia nos domingos anteriores à pandemia. Tem sido difícil, mas o domingo está voltando a ser o meu dia favorito: o dia em que eu e meu pai rompemos o silêncio e papeamos, ouvindo nossas vozes, as vozes do nosso lar.

Assim, foi esse o som de um domingo atrás: meu pai se inscrevendo pela primeira vez em um canal do YouTube. Espero ansiosa para descobrir qual será o som dos próximos domingos, qual som as nossas vozes ecoarão, mesmo isoladas. Por ora, alegro-me por notar novos barulhos possíveis dentro da minha casa.

Foto: Gilton Lopes Nascimento.