Mãe costureira, filha desajeitada

Em uma tarde qualquer,
peguei-me lembrando dela,
a mãe que costurou fé,
tecidos e roupas velhas.

Que carregou nas mãos fortes
marcas de agulhas e máquinas,
cicatrizes e alguns cortes
de diversas duras fábricas.

Na peleja de um resgate,
decidi também tecer
e talvez até rever
a mão que fazia arremate.

Faltava-me, porém, muito:
tinha todo o material,
mas não tinha fé no pulso
ou sequer o dedo hábil.

Insisti até ter pronto
aquele trivial bordado,
em nada extraordinário,
e de muito amador rosto.

Contudo, no meio dos trapos,
vi uma boa costura exposta:
meu corpo inteiro traçado
pelas mãos de mãe jeitosa.

No final daquela tarde,
ainda pensava nela,
a mãe que costurou fé,
tecidos e roupas velhas.

Foto: Gilton Lopes Nascimento.

Sobre o Autor

Nívea Lopes
Nívea Lopes

Nívea Lopes, professora de Língua Portuguesa e artista.

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