Já é a manhã de outro dia. A noite passou e eu nem vi, talvez me desejaram um boa noite que eu não respondi. Para desculpar-me, basta um “bom dia… dormi” recheado de impessoalidade. E, então, seguir. Seguir para mais um dia. Um dia para fingir que vou cumprir as metas, metas que possuem objetivos, aqueles que ainda não descobri. Afinal, basta cumprir. Tentar cumprir. Mas é apenas mais um dia. Um dia qualquer. Um dia comum. Um dia de se estressar no ônibus, no metrô e com quem decidir ficar parado no lado esquerdo da escada, por não estar atrasado. Mais uma manhã para reclamar do tempo: seja ele frio, chuvoso ou ensolarado. Mais uma manhã para não olhar no rosto de mais ninguém, além do meu nos reflexos dos carros parados. E de não prestar atenção em nenhuma voz, além da voz automática do metrô que me indica a estação certa para sair e novamente correr (correr do quê?). Se alguém falou comigo durante o caminho, não ouvi. “Desculpa, estava atrasada!” (para o quê?). Não posso parar! (ou será que apenas não quero?).
Mas hoje alguns pararam…
Na passarela a pequena multidão – talvez não tão atrasada – foi convidada a parar, respirar e contemplar. Veio um convite especial. Do tipo que poucos consideram banal. Desses que nosso coração nem sempre consegue dizer não. Descobri o convite seguindo o olhar da pequena multidão que deixou de correr para poder registrar a imagem (ou mensagem) estampada fora da rotina até ali seguida. A imagem estava estampada no céu, o mesmo céu que fez o convite para desacelerar o passo e erguer os olhos. Este apresentava um espetáculo para todos. Um espetáculo para se apreciar e ouvir a mensagem que todos os dias alguém tenta passar. “A vida não é só isso, é muito mais!”. Recebi o convite e passei batido. Foi apenas mais um dia. Mais um dia que me neguei um respiro, um suspiro. Um dia que talvez alguém falou comigo e eu continuei no acelerado ritmo, com a mesma desculpa de não ter tempo naquele momento e seguir pensando “Depois eu me resolvo. Afinal, daqui 20 anos tem de novo.”. Mais um dia para me deitar, dormir sem perceber e, mais uma vez, deixar uma mensagem sem responder. Mais um dia de não ver a noite passar e acordar de sobressalto: “Já é a manhã de um outro dia.”.
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