E quando não houver retribuição?

Vivemos cercad@s de pessoas. E pessoas diversas, porque as pessoas em si são diversas. Vivemos rodead@s de seres que são, em sua essência, únicos. E diante de toda essa diversidade, é comum e natural escolhermos quais desses diversos mundos, culturas e pensamentos diferentes vamos querer por perto. Partilhamos de sentimentos e compartilhamos modos de ver o mundo com aqueles que, incrivelmente, mesmo em suas inúmeras diferenças, se assemelham de algum modo conosco.

Todavia, essa vida em comunidade não é só parceria e cumplicidade. A estrada pela qual caminhamos não é reta e lisa. Há lá os seus entraves. E, talvez, um dos mais difíceis seja essa coisa de conviver com quem a conexão não acontece. Conviver com quem não corresponde às expectativas. Conviver com quem não retribui. Conviver com quem a relação tão desejada de reciprocidade não ocorre. E para isso, existe uma hierarquia bem demarcada que tenta resolver o problema. De acordo com a posição em que a pessoa estiver na lista, esta terá um modo peculiar de ser tratada: de algumas podemos rir; de outras devemos ajuda; há algumas ainda que seríamos capazes de colocar o pé, “acidentalmente”, para que caíssem; mas outras que daríamos a vida. Há uma seleção. Prezamos de maneira muito cuidadosa a troca. Porém, o que fazer quando no lugar da alegria da retribuição a frustração bater à porta?

A amizade é de uma beleza inexplicável, mas de uma dificuldade igualmente complexa. A construção de uma relação que começa com o choque da diferença ou do desejo de distância será uma construção de um trabalho árduo com a necessidade das mais diversas ferramentas. Mas paro para pensar que a essência de toda essa beleza da convivência mora aí. A beleza e o extraordinário estão no dar e saber que a possibilidade de receber de volta é quase nula, mas mesmo assim o fazer. É entender que a graça não está tanto no ter em troca, mas no doar. Doação. Amizade é doação. Doar lágrimas, sorrisos, força, disposição, tempo – mesmo na falta dos mesmos. Somos seres que carregam dentro de si coisas belas. Dar de acordo com o que recebemos nem sempre será a melhor alternativa. O resultado pode ser a intoxicação do nosso próprio ser.

Portanto, amemos. Amemos sem esperar o que virá de volta. Se vier a decepção, o amor, acima de tudo, é cura.

Sobre o Autor

Nívea Lopes
Nívea Lopes

Nívea Lopes, professora de Língua Portuguesa e artista.

0 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *