Passei alguns dias dedicando tempo à minha escrita. Ia de uma oficina a outra para testar novas técnicas e aperfeiçoar aquilo que faço desde pequena: escrever. Até que certo dia, um oficineiro de poesia, ousado, pediu para que eu escrevesse como eu gostaria que fosse minha escrita. Ora, que pergunta difícil, meu caro! Escrevo há alguns anos e nunca tinha me feito essa pergunta, apenas manipulava o lápis de acordo com a minha subjetividade. Contudo, pensei e decidi responder por aqui à pergunta do querido oficineiro.
Bem, para começar, eu gostaria que a minha escrita fosse como um rio que passa por um vilarejo trazendo boas notícias, que ajuda a esverdear alguma vida e que sacia a sede por beleza. Isso porque, por mais que eu tenha exercitado o escrever há alguns dias, desejo que minha escrita seja mais que mero exercício, desejo algo que abrilhante o rosto de quem lê, de quem vê, de quem ouve e de quem toca.
Acredito que cada pessoa dada à escrita tem as suas pretensões, e a minha é esta: não desejo escrever exclusivamente para mim, tendo as minhas letras num diário particular — um rio não é rio para si mesmo. Quero que minha escrita seja pública, ainda que meu público seja pequeno: alguns poucos ouvidos e eu. Gosto do coletivo e do partilhar. Sonho em conjunto: desejo que minha escrita seja lida.
Não sei se o oficineiro concordará comigo, mas penso que o ato de escrever tem disso: mesmo quando fala de algo feio, carrega junto algo de bonito. E é essa beleza que eu almejo. Não apenas uma beleza estruturada, mas uma beleza maleável como a água, que consiga alcançar aquele coração partido ou endurecido; uma beleza que traga brilho ao olhar cansado. Nesse ponto, desculpo-me pela utopia, a verdade é que sempre tive o mal de ser otimista demais, porque, sendo sincera, a gente cansa do que é péssimo.
Finalmente, para elucidar algo a quem está lendo e ao oficineiro, preciso confessar que minha escrita ainda é experimento. Por mais que eu tenha todos esses desejos, ainda engatinho quando escrevo. Sento, penso e desejo — apenas. Enquanto isso, continuarei na experiência dessa escrita e, quem sabe, em alguma outra oficina eu encontre novamente o rapaz que me fez tal pergunta e diga, feliz da vida: “Oficineiro, minha escrita, enfim, virou rio!”.
Foto: Gilton Lopes Nascimento.
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