Um dia desses, fui procurar algo para ler. Tinha em mente o que desejava: livros de poesia. Então, fui atrás disso em minha própria casa, pois guardava a certeza de que em algum lugar teria um livro de poesias perdido para eu resgatar e ler. Bem, essa certeza estava junto a mim por saber que, quando criança, eu e meus irmãos recebíamos algumas obras literárias da escola pública. Então, dito e feito! Encontrei em uma estante antiga uma antologia poética de Manuel Bandeira.
A princípio, não soube bem de onde aquele livro tinha surgido, uma vez que não me lembrava de o ter comprado. No entanto, não demorou muito para eu notar o símbolo do governo de São Paulo estampado na capa e pude, enfim, descobrir: aquele livro havia sido entregue pela escola na época de ensino médio. Tendo em vista que encontrei a obra muito tempo depois da minha formatura e a de meus irmãos, inferi que a obra estava ali há bastante tempo.
De todo modo, peguei o livro de Bandeira para ler e afirmo que me entreguei àquele livro de espírito aberto, visto que a vontade de ler poesia já transbordava em mim. Confesso também que nessa entrega fiquei por um tempo boquiaberta por ter notado aquela obra poética tão tarde em minha estante. O espanto veio junto de algumas perguntas: por que um livro dado pela escola demorou tanto para chegar em minhas mãos? Por que um livro dado no ensino médio chegou a mim somente quando eu já havia encerrado essa etapa? Ora, são muitas as respostas possíveis e estou até hoje ensaiando algumas. No entanto, o que importa é que li Bandeira. Melhor do que isso, após a leitura, levantei uma haste com minha própria bandeira.
Veja, a antologia poética é hoje livro de cabeceira. Acordo, olho para o lado e lá está Bandeira, a bandeira que levanto todos os dias: a bandeira da poesia, a bandeira da leitura arrebatadora. Leio diariamente, quase de maneira religiosa, e marco as páginas que contêm os poemas que tocam a alma e o espírito, que fazem cair lágrimas ou formar sorrisos. Ainda não sei dizer o porquê de ter encontrado o poeta anos depois de ele ter encontrado minha casa, mas me alegro por hoje estar consciente de sua estadia por aqui.
Por fim, agradeço tarde, mas agradeço a Manuel Bandeira por suas poesias e à escola que em sua tentativa, talvez ainda um pouco falha, entregou-me essa antologia que hoje me faz afirmar ainda mais convicta: a minha bandeira é o direito à poesia, uma poesia que está à disposição. E hoje digo sorridente: que felicidade ter encontrado esse livro, embora empoeirado, ainda inteiro e vivíssimo!
Foto: Gilton Lopes Nascimento.
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