“Aos 7 e aos 40” e o nocaute de Carrascoza

João Anzanello Carrascoza, escritor e professor universitário, é considerado um dos maiores contistas da contemporaneidade. Contudo, em 2013, lançou o seu primeiro romance, “Aos 7 e aos 40”, mostrando a sua maestria também em narrativas longas. Nesse romance, Carrascoza nos apresenta uma história que narra episódios da vida de um personagem em diferentes momentos: aos seus sete e aos seus quarenta anos de idade.

             Dessa forma, o livro traz uma disposição de capítulos bastante interessante, tendo em vista que em um capítulo o personagem tem sete anos e no seguinte ele tem quarenta, e assim o livro segue até o final, com a idade do personagem intercalando a cada capítulo. Além da idade do personagem, nota-se também uma diferença na escrita: quando o personagem tem sete anos, os capítulos são escritos em prosa, porém, quando o personagem está com quarenta anos, a escrita se dá por meio de uma versificação.

            Com essas diferenças entre os capítulos, o livro nos possibilita experimentar diferentes leituras. Ou seja, é possível se ler apenas os capítulos em que o personagem é uma criança, ler apenas os capítulos do personagem em sua meia-idade ou ler de maneira linear, capítulo por capítulo. De uma forma ou de outra, a escrita de Carrascoza é arrebatadora, uma vez que, apesar de ser um romance, o texto é bastante poético.

            Logo, ao passar de um capítulo para o outro, o leitor não apenas transita em dois tempos de vida diferentes como também é convidado a, inevitavelmente, comparar como o personagem enxerga a vida em cada período. Sendo assim, há uma convocação ao próprio leitor, que se identifica ora com a criança descobrindo o mundo, ora com o adulto já um tanto exausto de tantas descobertas. A verdade é: muito dificilmente o leitor passa de maneira indiferente por cada episódio. A sensibilidade de Carrascoza faz rir e faz chorar, arregaça o peito e o preenche.

            Além disso, como dito inicialmente, o autor é consagrado em suas escritas de contos e cabe pontuar que uma característica do conto é a sua comparação com um nocaute. Isto é, o conto não dá espaço para trégua, ele pega o leitor e o derruba. Posto isso, arrisco-me a dizer que Carrascoza traz isso para o seu romance. O leitor é nocauteado nas primeiras linhas.

Portanto, digo que a leitura de “Aos 7 e aos 40” é um nocaute que precisamos tomar; um nocaute que nos derruba por simplesmente nos recordar como a vida, na maioria das vezes, se dá — dolorosa. Por isso, não posso terminar esse texto sem lhe recomendar: se possível, leia essa obra. Com certeza, é um nocaute que, após te derrubar, te fará sorrir pela beleza e lirismo da narrativa.

Observação: A imagem do livro colocada de capa do texto se trata de uma edição antiga da obra. Hoje, a obra está com uma nova edição, também muito bonita.

Sobre o Autor

Nívea Lopes
Nívea Lopes

Nívea Lopes, professora de Língua Portuguesa e artista.

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