Na última sexta-feira, havia um evento importante a ser celebrado: uma colação de grau. Naturalmente, os sentimentos eram de alegria e anseio pelo encerramento de um ciclo bastante importante. Todavia, as instruções para celebrar esse momento foram diferentes. Uma celebração sem solenidade, dizia o e-mail recebido pela coordenação do evento.
Bem, não era de se esperar algo diferente. Aliás, qual foi a última festa solene que participei? Acredito que já esteja na contagem de trezentos e vinte e três dias evitando algumas cerimônias. De todo modo, na sexta-feira em questão, estava pronta para a não-solenidade. O dia estava chuvoso, a comida era a de sempre e a minha companhia eram os gatos, dormindo solenemente. Aguardava, paciente, a hora de assinar um documento online, sem muitos rituais. Na verdade, o único ritual que fiz foi hidratar o cabelo — ao menos isso, um cabelo hidratado, mas não muito.
Tendo em vista o meu dia não-extraordinário, tive de fazer um esforço maior, por dentro, para que, ao menos interiormente, houvesse celebração. Fiquei alguns minutos lembrando das muitas comemorações que aconteceram antes de chegar os dias não-solenes. Lembrei-me da celebração da primeira amizade, do primeiro almoço no restaurante universitário, do primeiro grupo ou primeiro trabalho apresentado. Foram muitos rituais realizados durante os quatro anos e meio dentro de uma universidade! Sinceramente, foram incontáveis os dias grandiosos.
Enquanto ainda exercitava a memória, percebi algumas mensagens chegando no celular. Eram amigos me parabenizando, de longe, pela tal celebração. Alegrei-me bastante, não ao ponto de me emocionar, mas me alegrei. Então, deixei de lado as mensagens e as memórias para, enfim, assinar o documento que me faria uma jovem formada — isto me parecia bastante solene, pelo menos no nome.
Assinado o documento, deitei-me um pouco, percebendo a crueza daquele dia. Era o que a vida havia me reservado, afinal. Conformada, aceitei a simpleza que foi a coisa toda e, depois de tentar me manter firme, derramei algumas lágrimas, solenemente grata, inclusive, pela ausência do extraordinário.
Foto: Gilton Lopes Nascimento